segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O SOCIÓLOGO, O PICHADOR E O DONO DO MURO. UM DEBATE.

(baseado num fato real)




A história foi estruturada de maneira fictícia para preservar a identidade dos envolvidos, pelo bem da liberdade poética em torno do evento e porque eu quis. O que você vai ler aqui é apenas a transcrição de um trecho. As opiniões apresentadas não representam as minhas opiniões. Da mesma forma, o palavreado de baixo calão utilizado por um dos participantes, não faz parte, bla, bla, bla... e foi reproduzido com cortes. A íntegra do debate pode ser solicitada. Mas não quer dizer que será enviada.

Esse debate acontece por telefone, num programa de rádio. Apresentado por um sociólogo, conta com a participação dos envolvidos no tema abordado e o cidadão comum, como você e eu.

O sociólogo: - Ao abordar a questão das pichações e os pichadores como um todo, bem como a reação dos proprietários dos imóveis, alvo dessa prática, o que este programa propõe fazer é dar-lhes igual espaço, ao mesmo tempo em que faz um estudo aprofundado do assunto, para melhor compreender tal atitude e assim, ir além da relação pichação/pichador/pichado em sí. Dessa forma, o que pretendemos é contextualizar essa relação trazendo-a para um cenário de maior amplitude, para que se possa encontrar soluções em larga escala, já que tal fenômeno não é apenas verificado na cidade de São Paulo mas também, nas maiores cidades deste país. Ou seja, acredito que com um pequeno esforço de todos e alguma boa vontade, chegaremos a um consenso e quem sabe, passaremos a encarar o problema da pichação dos muros e paredes da capital, por exemplo, como uma forma de arte. O que é a pichação, senão um retrato visualmente agressivo e ao mesmo tempo artístico da rebeldia e falta de perspectiva dos jovens menos favorecidos? Serão eles os Pollocks do novo milênio ?

O pichador: - É nóis.

O dono do muro: - Que tal... falta do que fazer? Vadiagem? Vagabundagem? Filadap...(corte) tagem ? Eu quero é que se fo(corte)... esse tal de Pollock. Deixe eu lhe dizer que retrato é esse: Quero que vá todo mundo tománo(corte)...! Quero saber é quem vai pagar o meu prejuízo e quero dizer também que se eu pegar o filadap(corte)... pichando o meu muro novamente vou encher o safado de porrada e fazer o desgraçado engolir toda aquela tinta e depois, socar a lata com vontade pra dentro dele, e não vai ser pela boca. Quero é que esse safado vá pichar, ou como o senhor disse, retratar a rebeldia dele na put(corte)...queopar(corte)...

O sociólogo: - Não acha essa reação um tanto quanto exagerada?

O pichador: - Na moral.

O dono do muro: - Exagerada? Imagine... Me dê o endereço da sua rádio e eu vou até aí lhe pichar essa m(corte)... toda, parede por parede, que tal ? E ainda guardo um pouco de tinta pra pichar o meio dessa sua cara safada, pode ser ?

O sociólogo: - Meu senhor, não acha que está sendo mal-educado e radical demais ?

O pichador: Aê.

O dono do muro: - Está certo. Antes que eu lhe mande tománo...(corte) e desligue na sua cara, vamos fazer assim então. O senhor me dá o endereço da sua mãe e e eu vou lá agora pichar a fachada toda daquele prostíbulo onde ela mora. E vou lhe dizer mais! Aposto com o senhor que a mãe do filadap(corte)..., do tal de Pollock , e a desse amiguinho seu aí no telefone moram lá também ! Melhorou ?

(Som de telefone desligando bruscamente).

(Corte para os comerciais).


Sobre "o tal de Pollock" : http://pt.wikipedia.org/wiki/Jackson_Pollock

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