quarta-feira, 26 de março de 2008

MEU NOME É GABIRÚ.

Ordem do animal: Rodentia.
Nome científico: Rattus Repugnantius Brasiliensis.

Nova espécie de ratazana encontrada vagando pelos corredores do congresso em Brasília. (da nossa redação)


Com ar sonolento, de barriga cheia, “Gabirú”, como é chamada carinhosamente pelos parlamentares, foi levada aos jardins do congresso para ser fotografada.

Um congresso, um mascote.

Mesmo depois da formidável descoberta, ainda não há consenso entre os membros da casa quanto à escolha do enorme roedor para ser o seu mascote. “A existência de um animal como Gabirú é surpreendente e nos enche de orgulho. Mas há outros animais sendo cogitados para a posição”, disse um funcionário do congresso que preferiu não se identificar. Uma fonte externa, ligada aos parlamentares pelo rabo, declarou “em off”:

“Há uma lista circulando no plenário que tem a hiena e a gaivota preta como principais candidatos, além da sucuri cascuda de barriga branca e a urutú cruzeiro".

Gaivota preta?

Para quem não conhece, a ave é mais conhecida como “urubú”.

Destes dois animais, a gaivota preta conta com maior preferência e leva boa parte dos votos. A hiena, entretanto, apesar da afinidade com alguns políticos, tem sua escolha prejudicada por não ser um animal de origem nacional. Gabirú, por outro lado, vem crescendo em popularidade. O simpático roedor nasceu entre as paredes do congresso e seus muitos descendentes já infestam alegremente os cantos mais escuros e sinistros daquela instituição.

CACETA DE AGULHA !

http://www.youtube.com/watch?v=GzYwQ8SOnSo

Adoro U2. Como Bono, sou a favor e incentivo a doação de órgãos, de sangue, de dinheiro, de tudo. Na música “Walk on”, Bono canta na primeira estrofe : “Love is not the easy thing, The only baggage you can bring, Is all that you can't leave behind”. (Amor não é uma coisa fácil, A única bagagem que você pode trazer, É tudo o que você não pode deixar para trás).

Acabo de ler “O inventor da solidão”, de Paul Auster, um dos escritores mais geniais da atual literatura contemporânea norte-americana. Como diz meu filho... não se trata de “pagapalismo americano”. Paul Auster é bom mesmo.

O livro me fez lembrar meu pai. E seus últimos vinte e poucos dias internado no hospital, antes de morrer. Ía visita-lo quase todos os dias e o encontrava dormindo boa parte do tempo. Era bom estar perto dele mesmo assim. Entre uma soneca e outra, ele acabava acordando e, muitas vezes, para ser sincero, me acordava também dos meus cochilos em sua companhia. De repente, ouvia-o dizer baixinho... “E aí, bixo! Você por aqui!” Eu apertava forte a mão dele, dava-lhe um beijo gostoso na testa e outro na bochecha e colocávamos as fofocas em dia.

Numa dessas visitas, fui convidado por um médico a doar sangue. Na verdade, esse é um procedimento padrão nos hospitais, em caso de internação. Os pacientes precisam de transfusões e nada mais justo do que a família doar um pouco desse sangue em retorno. Meu pai lembrou ao médico: “Meu filho é O+, como eu”, visivelmente orgulhoso de compartilharmos o mesmo sangue. Esse é o tipo chamado de “doador universal” e pode ser recebido por qualquer paciente, de qualquer tipo sanguineo. E eu daria quantos litros fossem necessários para ajudar meu pai a ir logo para casa.

Para minha surpresa, meu sangue não foi considerado bem-vindo. Eu explico. Antes da doação, passamos por uma entrevista muito simples. O objetivo é saber quem somos, como vivemos, que tipo de hábitos temos, se bebemos, fumamos, se usamos drogas, se usamos preservativos, se temos alguma doença, essas coisas. De repente uma pergunta curiosa, a respeito do lugar onde estava na década de 80. “Eu vivi em Londres, de 1986 a 1988, uns meses na Noruega e depois, até 1995 em Portugal.” A enfermeira, como se me pegasse em flagrante delito e com ar de desprezo pela minha
“vivência internacional”, me interrompeu dizendo: “Infelizmente, não podemos aceitar seu sangue e seu nome agora encontra-se registrado no banco de dados do ministério da saúde, da agricultura...” e mais alguns que não lembro agora.
E finalizou, sentenciando-me: “O senhor não poderá doar sangue em nenhum lugar do Brasil.”
Junto à minha indignação, veio a dúvida, logo esclarecida pela enfermeira, ainda com cara de poucos amigos. Era como se, deliberadamente, eu estivesse ali para infectar todo o hospital com meu sangue impuro. “A senhora pode me dizer o motivo?” E a resposta veio, curta e grossa: “Suspeita de contaminação pelo vírus da vaca louca”...

Hein?!?!?!? Como é que é ?!?!?!?

Pois é. Nem meu pai acreditaria. Ía achar que eu morri de medo da “caceta de agulha” e fugi, inventando uma desculpa estapafúrdia dessas. Mas não. Há uma determinação do ministério da saúde que diz: “brasileiros residentes no exterior durante a década de 80 não podem doar sangue devido ao surto de contaminação da carne bovina na Europa”, pelo famigerado vírus. A explicação é que esse vírus pode permanecer “dormente” na corrente sanguínea e levar muitos anos para se “manifestar” e aí, nada feito. De repente, meu cérebro pode se transformar num queijo suíço, numa barra de chocolate “Suflair”, cheio de buracos e eu caio para o lado, como uma vaca. Definitivamente. Irreversivelmente. Sou uma vaca louca em potencial e por isso, meu sangue não serve.

Voltei ao quarto do meu pai e contei-lhe a história . Rimos até dar dor de barriga. Foi muito bom ver meu pai daquele jeito, se contorcendo na cama do hospital, de tanto rir. “Sai pra lá com esse sangue!” Ele dizia e ria ainda mais.

É possível que o vírus não esteja no meu sangue, é possível que a lei mude, enfim... É possível que meu pai esteja aqui do meu lado lendo comigo, rindo muito de novo, enquanto vou escrevendo. E o amor não é mesmo uma coisa fácil...

Estava pensando nisso à pouco, enquanto olhava da porta do quarto, Danielzinho dando a sua cochilada depois do almoço. Para onde vai esse amor todo quando eu morrer? E se o vírus da vaca louca me pegar?

Paul Auster, ao escrever sobre a morte do pai: “Um dia há vida. E no outro, a morte.”

E o amor, é a única bagagem que podemos levar. É tudo o que você não pode deixar para trás.

Caceta de agulha !!!!!!

(Para a Nanda)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Caderno +Mais! (Tarde), Caderno2 (Depois) e cheiro de livro.

Fui assinante do Estadão uns anos atrás. Me enchia o saco ver aquela pilha de jornais não lidos se acumulando, todas as semanas indo para a reciclagem. Não que a reciclagem seja uma coisa ruim, pelo contrário. Ruim era ver o dinheiro gasto indo para o lixo. O que me leva ao meu paradoxo particular. Adoro ler. Sou viciado em ler. Mas prefiro livros e revistas aos jornais. Depois de uma dica do Loyola, comecei a prestar atenção no cheiro dos livros antes de lê-los. O que acabou se tornando um ritual. Antes da leitura, abro o livro junto ao rosto, o polegar passeando pela ponta das páginas, cheiro de livro novo, de papel, de tinta no ar. O cheiro é fácil. Difícil é descrever a sensação. Livro velho tem outro cheiro. De papel velho. Mas é bom do mesmo jeito. Com Loyola, aprendi também a não julgar um livro pelo cheiro. Recentemente, depois da compra do Thor (meu huskie siberiano branco, de olhos azuis), voltei ao hábito dos jornais. Eles marcam na área de serviço, o lugar onde Thor faz as suas necessidades. E ele faz xixi o tempo todo. E não só. Mesmo descontando o que ele faz na rua, ainda sobra muito para os jornais. Cachorro em apartamento dá trabalho, não tem jeito. Por outro lado, na troca dos jornais usados, aproveito para colocar a leitura da Folha e do Estado em dia. Não os compro. Depois de lidos, a Folha eu ganho da minha mãe e o Estadão, da Tia Lú e da Gêla. Semana sim, semana não, passo recolhendo-os para o banheiro do meu cão. As camadas inferiores, junto ao piso, ficam com os cadernos de economia, cidades e veículos. As camadas superiores ficam por conta dos cadernos de esportes, cotidiano, viagens e imóveis. É impressionante o boom imobiliário que São Paulo atravessa atualmente. Anúncios imensos em página dupla, fotos enormes de paisagens e condomínios belíssimos, custando os olhos da cara. Thor me olha como quem está apertado, me fuzilando... “Dá para ir mais rápido com isso?” Imagens de fachadas faraônicas e apartamentos luxuosíssimos, de milhões de reais são logo cobertos pelos dejetos de um cão aliviado. A cara que ele faz é impagável. Coisas dessa relação misteriosa entre um cão e o seu dono que ninguém mais vê. Depois de um afago naquelas orelhas enormes, saio dali pensando... “Quem realmente precisa de um apartamento de um, dois, três milhões de reais?” Em seguida, vêm os cadernos de política... Nesses, minha vontade é de me juntar ao Thor, para dizer o mínimo. Lembro-me de quando fiz parte da Anistia Internacional, em Portugal. Mandamos uma carta ao então deputado Amaral Neto, o mesmo do programa da Globo na década de 70, “Amaral Neto, o repórter”. “Como vocês podem ver, estou aqui no Atol das Rocas...” E lá estava ele, cada semana num lugar diferente. Confesso, era fã do sujeito. Voltando à carta. Falávamos sobre o desmatamento da Amazônia ou algo assim e a enviamos endereçada ao dito deputado. Para nossa surpresa, semanas depois veio a resposta. A mensagem, em papel timbrado do congresso brasileiro era, em letras maiúsculas: “MERDA PARA A ANISTIA INTERNACIONAL” . E assinada, de próprio punho, Deputado Amaral Neto. Mas, voltando ao banheiro do Thor, nem tudo é lixo nos maiores jornais de São Paulo. Minha mania agora é guardar o +Mais! (Tarde), da Folha e, Caderno 2 (Depois), do Estado. As pilhas voltaram, como era de se esperar. Mas, são bem menores agora e muito mais interessantes.